POR QUE ESTAMOS TÃO INSATISFEITAS COM NOSSOS CORPOS?
- Adriana Borowski

- 2 de dez. de 2023
- 5 min de leitura

Vivemos em um mundo em que imagens tem mais valor do que pensamentos, corpos são mais valorizados do que pessoas e somos submetidas 24h por dia a exigências de todos os lados. Devemos ser excelentes em tudo: excelentes pessoas, mães, amigas, excelentes profissionais, chefes, empregadas, excelentes parceiras, amantes. E excelentes em foco, determinação e força de vontade, tudo isso para termos o corpo que "alguém" disse que é o padrão, que todas nós deveríamos ter, mesmo que para isso seja necessário fazer dietas extremamente restritivas e exercícios extenuantes todos os dias.
Mas pra quê mesmo tudo isso?
Para nos ENCAIXAR NO PADRÃO, naquilo que determinaram que seria o bonito, o agradável, o correto, aquilo que seria o aceitável...
A partir disso podemos fazer algumas reflexões:
– O que é "padrão"?
– Quem inventou essas regras?
– Quem lucra com isso?
– Será que nós, pessoas normais, sem vida editada somos tão inadequadas assim?
– E para onde isso tudo está nos levando?
– E o que podemos fazer a esse respeito?
- O conceito de padrão diz que: padrão é aquilo que se aplica ampla maioria, então para que esse modelo de corpo super magro e atlético pudesse ser definido como o padrão de corpo das mulheres de uma população, 80% ou até mais deveriam ter esse tipo físico, mas ao contrário, somente 10% das mulheres tem constituição genética para esse formato de corpo.
Então surge outra reflexão...
– Esse formato de corpo é IRREAL e INATINGÍVEL para a imensa maioria das mulheres, mesmo com dietas e exercícios físicos.
Mas e agora, como saímos desse dilema? (leia até o final).

Vamos às reflexões!!
- Quem inventou essas regras?
Até a primeira guerra mundial o padrão (aquele que se aplica à imensa maioria), era o de mulheres de bochechas coradas e corpo com curvas.
Nos anos 1920, após a guerra muitas mulheres que perderam seus maridos, precisaram trabalhar fora para manterem suas famílias e corpos menos pesados e cabelos mais curtos e fáceis de arrumar facilitavam o dia a dia.
Na década de 1960 começaram a aparecer as mulheres mais curvilíneas como Marylin Monroe, em que se podia observar uma barriga normal, como é a barriga de todas nós!
A partir de 1980 as grandes marcas e costureiros começaram a apresentar suas coleções em modelos cada vez mais magras e essa cultura perdura até hoje.
Mas e como nós mulheres reais fomos pegas nessa armadilha?
A mídia em sua totalidade, lá atrás a televisão, as revistas impressas e os jornais e a partir dos anos 2000 começou a ampla divulgação através da Internet e suas redes sociais.
E hoje em dia somos bombardeadas com conteúdos fúteis de musas fitness, blogueiras e “influencers" (que exercem que tipo de influência? Boa ou má?) que nos dizem que podemos ter aquele corpo, basta ter "foco, força e fé" e tirar a bunda do sofá. Será? Já falamos sobre isso... e então...
– Quem lucra com isso?
Uma rede gigantesca, desde a indústria de produtos de beleza, que todo dia em suas campanhas de marketing faz você se sentir inferior, pois a modelo que está na propaganda do produto normalmente é uma menina muito mais jovem, muito mais alta, muito mais magra, a pele muito mais lisa e sem marcas, ou seja, quem está lá é uma mulher com traços infantilizados de uma menina de 11 anos, e isso é colocado todos os dias como referência. E essa indústria lança diariamente inúmeros "produtos milagrosos" que prometem nos deixar como a fulana (que faz a propaganda e nem usa tal produto).
E essa cadeia que ganha com a nossa insatisfação é abastecida pela mídia como um todo que fatura milhões e milhões, pois é lá que o marketing todo é feito.
E os "influencers" (que influenciam o quê? Para o bem ou para o mal estar?), faturam horrores para mostrar uma vida supostamente saudável, mas que em sua extrema maioria é irreal, suas fotos são editadas, seu corpo 0% de gordura é esculpido com cirurgias plásticas, procedimentos estéticos e rotinas patrocinadas, (dias atrás vi uma "celebridade" que está lançando um programa de treino funcional mostrando vários exercícios do tal programa, o que ela não contou nas redes sociais é que, NÃO FOI COM ESSE TREINO QUE ELA ESCULPIU SEU CORPO, mas sim com uma cirurgia de lipoaspiração e um implante do tal chip da beleza) e basta ver as hashtags no final dos posts que mostram a vida das tais influencers... #lojaquepatrocinoualouça, #frutariaorgânica, #clínicadeestéticatal, e por aí vai...
– Será que nós pessoas normais e sem vida editada somos tão inadequadas assim?
NÃO!! Não somos inadequadas!!
Acabamos virando vítimas dessa cadeia que nos bombardeia com insatisfação diariamente e somos impelidas a achar defeitos em nossos corpos a todo momento.
Tá Adriana, mas é errado querer mudar algo em seu corpo?
Não, desde que essa vontade não venha porque alguém te convenceu de que é feia ou inadequada. Desde que esse desejo seja realmente seu e não venha porque você quer ficar parecida com outra pessoa...
– Para onde isso tudo está nos levando?
A cada dia se tornam mais explícitos os males que toda essa cultura de culto ao corpo vem causando não só às mulheres adultas, mas às meninas que mal entraram na pré-adolescência e já são cobradas por outras meninas e meninos por sua aparência física.
Estamos vendo todos os dias e cada vez mais, crianças, adolescentes e mulheres com transtornos alimentares, problemas de distorção de imagem e autoestimas dilaceradas por não conseguirem se encaixar nos moldes de beleza e a imensa maioria dessas pequenas e grandes mulheres não tem sequer condição de buscar tratamento psicológico.
– E o que podemos fazer a esse respeito?
- Um bom começo é aceitarmos que existe uma diversidade enorme de corpos no mundo, respeitarmos essas pessoas únicas, com suas belezas peculiares e entendermos que todas tem seu valor, que vai muito além da aparência física.
- Rejeitar a cultura e a indústria da dieta dizendo NÃO a tudo que tenta nos colocar numa caixa, como se fôssemos uma linha de eletrodomésticos, todas iguais.
- Outra maneira de sair desse automatismo que nos colocaram é tentarmos simplesmente viver. Isso!! Viver!! Começando por dar atenção aos nossos valores, ao que realmente gostamos e importa, deixando de prestar atenção e seguir o que pessoas fora da realidade nos dizem que é o certo.
Reconhecer que é esse corpo que nos permite andar, abraçar, pegar nossas crianças no colo e participar dessa experiência maravilhosa que é sermos seres humanos.
Comece a olhar seu corpo como o veículo que te leva para onde você deseja ir.
Eu te garanto que vale o esforço!
As mudanças virão com o tempo e você se sentirá muito mais à vontade e feliz.



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